Médium, Mediunidade e Obsessão

25 de Maio de 2014 2 Por JORGE Baldez

                    Falar, escrever sobre médium e obsessão é tomar o hausto de um perfume, fruto da preciosa, refinada e inteligente amálgama divina apresentada por Allan Kardec de um lado da vida e uma plêiade de Espíritos na dimensão espiritual – a mediunidade – que o Espiritismo conceitua baseado na concepção de que o ser humano constitui-se de três partes essenciais: Uma primeira é o corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital; a segunda é a alma, Espírito encarnado que tem no corpo sua habitação; e finalmente a terceira diz respeito ao princípio intermediário, ou perispírito, substância semi-material que serve de primeiro envoltório ao Espírito e une a alma ao corpo.(1) 
“A mediunidade é uma faculdade multiforme; apresenta uma infinidade de nuanças em seus meios e em seus efeitos. Aquele que é apto para receber ou transmitir as comunicações dos Espíritos é, por isso mesmo, um médium, seja qual for o meio ou o grau de desenvolvimento da faculdade – desde a simples influência oculta até à produção dos mais insólitos fenômenos.”(2)
Portanto, Allan Kardec disse-nos: ” todos nós somos médiuns”, contudo no dia a dia costumamos rotular de médium somente aos portadores de mediunidade ostensiva. Ele também define mediunidade como: Faculdade dos médiuns. Segundo André Luiz, mediunidade é o atributo de homem encarnado, para corresponder-se com o homem liberado do corpo físico.(3)
Resta perguntar, então, por que, algumas pessoas são portadoras de mediunidade ostensiva enquanto que outras não? — A este questionamento podemos responder que as causas  que caracterizam o dom da mediunidade ainda não são perfeitamente conhecidas. A princípio pensava-se que para ser portador de um dom tão precioso seria condição primordial ser um espírito de escol ou ter uma moral ilibada, entretanto, a experiência no campo da mediunidade demonstrou-nos o contrário, pois existem muitos médiuns com mediunidade prodigiosa com nível de moralidade questionável. Portanto, ser médium não significa ter merecimentos.
No livro intitulado: A Obsessão – escrito por Allan Kardec, o mestre de Lion nos esclarece: “O mérito não está na posse da faculdade mediúnica, que a todos pode ser dada, mas ao uso que dela fazemos.” Então, a distinção capital quanto à bondade do médium não está na facilidade das comunicações, mas exclusivamente na sua aptidão para só receber boas comunicações. Nesse caso, as condições morais do médium são de suma importância.
Os espíritas, principalmente, os que participam e trabalham em reuniões mediúnicas devem relembrar sempre das principais advertências de Allan Kardec: a obsessão é um dos grandes tropeços com que esbarra o Espiritismo; o maior escolho da mediunidade é o médium imperfeito, pois os espíritos embusteiros, levianos, mentirosos e pseudossábios podem misturar-se em suas comunicações, alterando-lhes a pureza e induzindo o médium ao erro.
Como evitá-lo? – O maior escolho do Espiritismo, cuja gravidade é óbvia – é possível de ser evitado, para isso, faz-se necessário o julgamento. Que julgamento? – A capacidade de julgar os Espíritos por sua linguagem com uma ferramenta infalível: o bom senso e a razão.
É oportuno dizer aos irmãos espíritas a importância de conhecermos os fundamentos do Espiritismo e habilitar-nos para separarmos o joio do trigo.
Nesse contexto citamos José Herculano Pires que no seu livro introdução à Filosofia Espírita ressalta com muita propriedade que os espíritas se esquecem de algo extremamente importante: “o Espiritismo é uma doutrina que existe nos livros e precisa ser estudada.”
Permito-me, fazer aqui o seguinte relato: Há muitos anos fui a um Centro Espírita de São Luís para assistir a uma palestra cujo motivo, aos olhos do leitor, pode parecer bastante inusitado: chegou ao meu conhecimento, através de informações de trabalhadores deste centro – que a palestrante não tinha boa dicção; cometia erros frequentes de concordância e o mais grave; possuía um sofrível conhecimento dos fundamentos doutrinários.
Dirigi-me, então ao Centro Espírita. Lá chegando, a convite do coordenador, sentei-me ao seu lado. Ele fez a prece de abertura, apresentou e concedeu a palavra à palestrante. O salão estava lotado e na primeira fileira eu destaquei uma senhora da nossa sociedade, que ocupava na época um cargo de destaque no setor público federal. No transcorrer da palestra que ia até certo ponto muito bem, um deslize doutrinário foi cometido. Tal fato equivocado gerou uma pergunta da senhora da primeira fila que, por sua vez, deu origem a outro equívoco da palestrante ao respondê-la.
Criou-se, então, a partir daquele momento, um clima desagradável e o coordenador, senhor culto e com grande conhecimento do espiritismo, sentiu a necessidade de intervir na tentativa de corrigir os dois equívocos cometidos. Confesso que eu estava um tanto inquieto com a situação, entretanto, no momento em que o coordenador pediu a palavra eu fiquei mais calmo, porque sabia ser ele capaz de esclarecer e contemporizar a situação. Entretanto, qual não foi a minha surpresa, pois no transcorrer da fala do coordenador, o esclarecimento ficou um tanto velado, porque ele não sabia se corrigia os equívocos e atendia às observações da senhora, ou, se tentava justificar os enganos da palestrante – era uma missão realmente impossível, que só um coração daquela magnitude poderia tentar… Bem, logo após a velada e amorosa intervenção do coordenador, a palestrante deu continuidade a sua exposição. Nesse exato momento, a senhora da primeira fila levantou-se e foi embora, e nunca mais retornou…
O tempo passou célere e cerca de 10 anos após o episódio citado, uma trabalhadora espírita pediu-me para assistir a uma amiga em seu domicílio. No dia marcado, ela conduziu-me a um edifício luxuoso e quando adentramos reconheci a mesma senhora, da primeira fila que estava presente no Centro Espírita e que havia protagonizado, sem querer, os equívocos da palestrante. Ela agora não era mais a mulher esbelta e elegante de outrora: estava com obesidade mórbida, depressão e o raciocínio lento devido aos medicamentos que usava.
Na realidade, além das doenças, ela estava atemorizada com a informação recebida em um Centro Espírita que trabalha com curas mediúnicas; no qual, além de fornecer-lhe várias recomendações antidoutrinárias, acrescentaram uma observação nada consoladora: a de que aquela senhora era portadora de obsessão provocada por nada mais, nada menos que cem obsessores! – é isto mesmo, 100, para não se ter dúvida.
Diante de tal situação fiquei tão confuso quanto o amigo que tentou justificar os equívocos daquela palestrante. Você lembra? Agora, eu estava ali, em nome de Jesus, diante do mesmo personagem, buscando um meio de desfazer os equívocos de médium portador de uma mediunidade atormentada… Portanto, convém lembrar que além de bom senso  e razão, é necessário estudar sempre…
Bibliografia:
(1)- Livro dos Espíritos – questão 135ª
(2)- A Obsessão – obra de Allan Kardec.
(3)- Evolução em Dois Mundos – Espíritos André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier.