A FÉ

17 de Agosto de 2021 Não Por JORGE Baldez

Quando aquele jovem médico ouviu pela primeira vez comentários sobre a fé, o poder da fé e a fé que transporta montanhas ficou confuso e sem entender de que maneira, algo abstrato poderia, transportar o material de toneladas de uma montanha. Era uma impossibilidade…! Somente anos depois, no afã de definir sua formação religiosa; motivado principalmente, pela busca de esclarecimentos e explicações, ele foi surpreendido quando do encontro com a Doutrina Espírita, através dos livros de André Luiz psicografados por Chico Xavier – um relato sobre: A vida no mundo espiritual…

Encontrei, enfim, o caminho da luz – pensou ele com entusiasmo. E no dia do seu primeiro Evangelho no Lar ficou em êxtase, pois ao abrir o Evangelho Segundo o Espiritismo, deparou-se com o capítulo XIX intitulado: A FÉ QUE TRANSPORTA MONTANHAS. No transcorrer da leitura deu-se conta de como ele se equivocara com a interpretação – as montanhas estavam ali no texto com o sentido moral e não material – ele sorriu da sua ingenuidade…! As montanhas que a fé transporta são as dificuldades, as resistências, a má vontade, o preconceito, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo, as paixões orgulhosas e tantas outras montanhas, que dificultam os nossos passos, retardando o progresso da Humanidade.

Popularmente se diz que a fé não pode ser prescrita, ou o que é ainda mais compreensível: não pode ser imposta. Ao tentar impor-se, exigiria a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas da criatura humana: o raciocínio e o livre arbítrio. Entretanto, mesmo entre os mais refratários, ninguém está impedido de possuí-la.

No aspecto religioso e nas diferentes religiões com seus dogmas particulares dizemos que a fé pode ser raciocinada ou cega. A fé é cega quando aceita sem controle o falso e o verdadeiro, assim, logo desmorona ao ser exposta à evidência da razão. É exatamente o dogma da fé cega que hoje em dia produz o maior número de incrédulos e fanáticos, quando levam-na ao excesso. Desse modo, para crer, não basta ver, é necessário sobretudo compreender. A fé raciocinada, que se sustenta nos fatos e na lógica, não permite nenhuma obscuridade: crê-se, porque se tem a certeza, e só se está certo quando se compreendeu; “porque só é inabalável a fé que pode enfrentar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.”

“Senador, porque me procuras? – perguntou Jesus, espraiando o olhar na paisagem, como se desejasse que a sua voz fosse ouvida por todos os homens do planeta, com serena nobreza completou: — Seria melhor que me procurasses publicamente e na hora mais clara do dia, para que pudesses adquirir, de uma só vez e para toda vida, a lição sublime da fé e da humildade…

Públio Lentulus nada pôde exprimir, além das suas lágrimas copiosas, pensando amargamente na filhinha; mas o profeta, como se prescindisse das suas palavras articuladas, continuou:

— Sim… não venho buscar o homem de Estado, superficial e orgulhoso, que só os séculos de sofrimento podem encaminhar ao regaço de meu Pai; venho atender às súplicas de um coração desditoso e oprimido e, ainda assim, meu amigo, não é o teu sentimento que salva a filhinha leprosa e desvalida pela ciência do mundo, porque tens ainda a razão egoística e humana; é, sim, a fé e o amor de tua mulher, porque a fé é divina… Basta um raio só de suas energias poderosas para que se pulverizem todos os monumentos das vaidades da Terra…”

“A fé é o sentimento inato, no homem, da sua destinação. É a consciência das prodigiosas faculdades que traz em germe no íntimo, a princípio em estado latente, mas que ele deve fazer germinar e crescer, através de sua vontade ativa.”

“A fé, para ser proveitosa, deve ser ativa; não pode adormecer. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus. A esperança e a caridade são uma consequência da fé. Essas três virtudes formam uma trindade inseparável. A fé, divina inspiração de Deus, desperta todos os sentimentos que conduzem o homem ao bem: é a base da regeneração.”

Compreendamos: não é rótulo religioso, confissão religiosa que nos interessa, fundamentalmente, senão a revelação de fé viva, a atitude positiva da criatura, da alma na jornada de elevação. Não nos esqueçamos que estamos, aqui, agora, no planeta Terra para nos empenharmos numa obra educativa. Ajudar alguém, ou socorrê-lo, não significa subtrair o interessado à oportunidade de luta ou edificação.

Busquemos no patrimônio da fé o fator indispensável de equilíbrio mental da Humanidade, esse tesouro esquecido por todos, numa época em que a instabilidade e a incerteza ameaçam todas as instituições de ordem e de trabalho, de entendimento e de construção. Onde depositamos a fé viva que nossos antepassados conquistaram com suor e lágrimas?

Ontem, no passado remoto, à época de Jesus, movidos pela fé seus companheiros disputavam a oportunidade de servir; no entanto, hoje, procuramos a todo custo, as mínimas ocasiões de sermos servidos.

Jesus inaugurou há mais de 2000 anos a Religião do Amor Universal, que os sacerdotes políticos dividiram em várias escolas, fragilmente, alicerçadas no sectarismo injustificável. Entretanto, apesar do lastimável engano, a essência da mensagem do Mestre de Nazaré continua a mesma que sustentou a fé, a coragem e o sacrifício dos mártires nos primeiros dias do Cristianismo.

“O Evangelho, em suas bases, guarda a beleza do primeiro dia. Sofisma algum conseguiu empanar o brilho de amai-vos uns aos outros, como eu vos amei…”

“Qual ocorre à ciência, a religião tem o seu trabalho específico no mundo. Força equilibrante do pensamento, seus servidores são chamados a colaborar na harmonia da mente humana.”

“Amando e socorrendo, crendo e agindo, Jesus amparou a mente desequilibrada do mundo greco-romano, infundindo-lhe vida nova, em favor da Humanidade mais feliz. Assim, igualmente, cada discípulo da fé redentora pode e deve cooperar no reerguimento dos irmãos frágeis e vacilantes.”

“Aguardar o Céu, menosprezando a Terra, é obra de insensatez. O irmão caído é nossa carga preciosa, a dificuldade é nosso incentivo santo, a dor nossa escola purificadora.”

“Ao mundo atormentado proclamemos a nossa fé em Cristo-Jesus para sempre!…”

Referências:

  • O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – 12ª Edição – 03/1996 – capítulo XIX – A Fé que transporta montanhas. Tradução de J. Herculano Pires;
  • Fonte Viva – Francisco Cândido Xavier. Pelo Espírito de Emmanuel – 25ª edição Federação Espírita Brasileira – capítulos 26,39 e 44;
  • No Mundo Maior – A Vida no Mundo Espiritual – Francisco Cândico Xavier. Pelo Espírito André Luiz – Federação Espirita Brasileira, ed. Especial, 2003- capítulo 15, Apelo Cristão;
  • Há 2000 anos… Francisco Cândido Xavier. Pelo Espírito de Emmanuel =- copyright 1939 by FEB – 24ª edição.