REFLEXÃO sobre a vida

27 de Junho de 2022 Não Por JORGE Baldez

No quarto do hotel, sozinho, andou de um lado para o outro, inquieto, desejando algo, que nem mesmo ele sabia…! Aproximou-se da janela e deixou o olhar descortinar a beleza da paisagem…, inspirou profundamente acompanhando cada fração de ar penetrando em seus pulmões e estufando a sua caixa torácica. Mais calmo, deixou-se envolver pelo barulho das ondas do mar. Estava no oitavo andar e sua visão era simplesmente, deslumbrante.

O hausto, a visão e o som do vai e vem das ondas  envolveram, de tal modo que lhe proporcionaram uma sensação incomum – agora, uma tênue calma apoderava-se dele: os pensamentos bailavam céleres; os sentimentos desciam silenciosos em forma de lágrimas pelo seu rosto e ele encontrara, finalmente, uma pequena medida de paz, que tantos procuram, mas que somente poucos podem alcançar.

Pensativo, recordava-se de toda a sua vida, até, então: as suas vitórias, os seus fracassos – percebeu, assim, a visita inexorável das rugas que marcavam o seu rosto; seus cabelos brancos, sinalizando a velhice que dele se assenhoreava. Foi nesse momento de reflexão, que aflorou em sua mente a grande importância da família como instrumento de amparo, solidariedade, carinho, proteção e amor.

A família, no seu entendimento, representava um grande salto no processo evolutivo da criatura humana e, não, apenas, uma estrutura genética ou social para transferir heranças ou bens materiais, mas, essencialmente, que se transferissem exemplos de natureza moral em um ambiente familiar moralizado, onde se vivenciasse um sentimento amoroso

Os laços familiares—disse em voz baixa, quase um murmúrio–são eternos, quando construídos com amor. Tudo o mais são excessos que se perdem ao longo do nosso caminho.

 Subitamente, preocupou-se ao relembrar uma frase de Will Duran: “Toda vez que a família se desestrutura, a sociedade cambaleia, a cultura se degenera, a civilização se corrompe.” Então, orou e pediu ao Criador que as famílias do mundo entendessem que o rompimento dos laços familiares nos deixaria reduzidos a uma vida sem significado, quase animalizada. Entendessem que só se constrói uma sociedade sadia, com famílias também sadias.

Lembrou-se ainda de uma das lições mais importantes dos ensinamentos do inesquecível mestre Galileu – o perdão. Jesus sabia que os ressentimentos produziam na alma humana gravíssimas lesões. E que somente o perdão seria capaz de libertar-nos da escravidão de nossas mágoas e de nossos remorsos. Jesus desejava aliviar a nossa alma da carga pesada dos ressentimentos, dos rancores, das nossas culpas e da autopunição.

Sorriu de satisfação com as suas reflexões e pensamentos, e falou em voz alta como se estivesse falando para uma multidão – a proposta de Jesus do perdão é libertadora.

 Aguçou o olhar para bem longe, como se procurasse o Mestre naquele céu amarelo cor de ouro daquele magnífico pôr do sol para, em seguida, sentir que naquele exato momento Jesus estava bem mais próximo: na sua alma, no seu coração, nos seus pensamentos, nas suas lágrimas, na sua saudade. Estava ainda como um bálsamo, banhando as lesões graves que carregava na sua alma.

Recordou ainda – que Jesus vivenciou a arte do perdão, pois perdoou quando rejeitado, quando ferido, quando zombado, quando injustiçado, perdoou-nos, até quando estava agonizando na cruz.

Concluiu, então que no lar, no seio da família é um lugar excepcional para os reajustes do passado remoto e recente e um grande laboratório, onde podemos reeducar os nossos sentimentos,  praticando o perdão.

Referência:

1-A Educação Segundo o Espiritismo. Editora Comenius-edição revisada e comemorativa- 2012. Dora Incontri.