O Brasil e a Educação

26 de Dezembro de 2012 4 Por JORGE Baldez

                     Há pouco tempo li um artigo citando que na Finlândia os direitos à educação básica gratuita são universais, ou seja, é uma conquista de todos: livros didádticos, transporte, refeições, atendimento médico nas escolas etc… Em razão deste investimento, construiu-se um país com uma economia competitiva, baixa taxa de corrupção, uma administração pública eficiente, que gera um ambiente respirável e bastante saudável.
A presidenta da Finlândia, Tarja Halonen ressalta que um povo ignorante, sem educação é terreno fértil para que a demagogia dos maus políticos floresça como erva daninha, assentando raízes profundas, das quais a muito custo nos libertaremos.
No Brasil, é exatamente o que está acontecendo, as ervas daninhas da ignorância e do analfabetismo fincaram as suas raízes como se fossem raízes estranguladoras e sugadoras. A raiz estranguladora “abraça” outro vegetal e, na maioria dos casos, há a morte do hospedeiro. A raiz sugadora penetra o corpo da planta hospedeira e absorve todo ou parte do alimento do vegetal. Assim é a política brasileira, conduzida por políticos que não ligam a mínima para a educação, pois galgaram cargos importantes sem a necessidade de instruir-se. E, tal qual raízes estranguladoras e sugadoras alimentam-se das necessidades do povo, uma vez que eles sabem muito bem que a ignorância e o analfabetismo não têm discernimento, mas necessidades, assim perpetuam-se…
Há algum tempo, os professores e os políticos que não fazem parte da “quadrilha de mensaleiros” lutam por um maior investimento na Educação, apesar do protesto do ministro da Fazenda, Guido Mantega que, segundo o jornal Mídia News, criticou as medidas aprovadas pelo Congresso aumentando os gastos do governo.
O ministro citou, entre essas medidas, o Plano Nacional de Educação, que prevê elevar os gastos do governo federal em educação para o equivalente a 10% do PIB:”Isso coloca em risco as contas públicas. Isso vai quebrar o Estado brasileiro” – citações feitas por ele durante o Seminário Econômico Fiesp-Lide, em São Paulo. A proposta que eleva o investimento em educação, felizmente, foi aprovada, mas recebeu também a crítica do ministro da Educação, Aloizio Mercadante.
É de se lametar como alguns políticos tratam a educação no Brasil. Estávamos investindo uns inexpressivos 5% do PIB, sendo: 4,3% na educação básica e , 0,7% no ensino superior. Cabe aqui citar o que Sir Arthur Lewis diz: “Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido.”
O Brasil deveria seguir o exemplo da Coréia do Sul e investir na educação para crescer, disse o professor de economia e ciências políticas da Universidade da Califórnia em Berkeley, Barry Eichengreen em sua palestra durante o seminário promovido pelo BNDS para discutir o Brasil e o mundo em 2022.
Segundo o professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Nelson Cardoso Amaral, Doutor em Educação, investir 7,5 a 10% do PIB em educação significa esperar até 2050, ou na melhor das hipóteses até 2040, para o Brasil se equiparar ao nível de investimentos feitos pelas nações com menores desafios na área. Enquanto isso, o analfabetismo no Brasil, é maior que no Zimbábue, variando de 8-10% nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste e de 28%, nas regiões Norte e Nordeste. Isso, sem levar em conta cerca de 20% de analfabetos funcionais.
Será Sr Ministro que o Brasil vai quebrar porque aumentou de 5% para 10% do PIB o seu investimento na educação? O que dizer da corrupção, acrescida pela vergonhosa impunidade; do mensalão; dos cartões corporativos; das obras superfaturadas; dos supersalários; das mordomias; dos dólares na cueca – basta!…
Enquanto isso, os políticos sagazes, verdadeiros sanguessugas prosperam, aproveitando-se das necessidades dos excluídos, distribuindo migalhas como se fossem os salvadores da pátria, com os programas ditos sociais, mas na verdade um vergonhosa compra de votos legalizada.
Adam Parworski, cientista plítico polonês radicado nos USA, professor da Universidade de N. York cita: “As políticas públicas que universalizam oportunidades na educação e na saúde são muito mais eficazes na redução da pobreza do que as políticas de redistribuição de renda, que não proporcionam as condições de uma melhora continuada.”
Um povo educado sabe muito bem diferenciar um discurso sério de uma prédica demagógica e não permite a ação de corruptos, nem incompetentes; um povo educado saberá eleger dirigentes honestos e competentes. Estes elegerão os melhores assessores.
Immanuel Kant citou em uma de suas obras: ” É no problema da educação que assenta o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade.” “O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele.”
Há muitos anos eu estava visitando um amigo que é próspero fazendeiro no interior do nosso estado e presenciei um fato inesquecível. Esse amigo era dono de várias fazendas e tinha muitas cabeças de gado, espalhadas em vastas terras de sua propriedade. Uma vez por ano ele costumava montar em seu cavalo e enveredar-se por essas terras sem fim para uma breve vistoria e para dar “a sorte do vaqueiro”, pois todo ano o vaqueiro ganhava um bezerro da vaca que fosse parir, caso o bezerrinho nascesse vivo – era a “sorte do vaqueiro”; mas, caso nascesse morto o vaqueiro era só lamentação… Pois bem, no dia que eu cheguei à fazenda ele estava partindo para essa longa cavalgada. No entanto, estava bastante preocupado com a sua caminhonete cabine dupla, tração nas quatro rodas e que ele a nominava de “Vera Fisher” de tão bonita que era. Preocupado, porque a “Vera Fisher” ia completar 5 mil km e deveria ser efetuada a troca do óleo, exatamente no período em que ele estaria longe. Então, ele chamou o motorista, e fez-lhe a seguinte recomendação:”Pixuta, a caminhonete vai completar 5 mil km e você deve, com essa quilometragem, efetuar a troca do óleo;” repetiu mais uma vez e o tal Pixuta, respondeu-lhe:”sim senhor, não se preocupe eu não vou esquecer de trocar o óleo de “Vera Fisher.”
Não conformado com resposta do motorista, que não lhe inspirava confiança, ele resolveu escrever um aviso e fixá-lo na cabine da caminhonete: Pixuta, não esqueça de TROCAR O ÓLEO com 5 mil km. Partiu para sua jornada e cerca de 5 dias depois ele retornou estafado de tanto cavalgar. Assim que acordou no dia seguinte, no café da manhã, ele mandou chamar o motorista – e perguntou-lhe: Pixuta, você trocou o óleo da caminhonete? – Eu troquei sim senhor. Você leu o aviso que deixei na cabine? Eu li sim dôto Ivá, o sinhô não escreveu: Pixuta óia o óil – traduzindo a frase do motorista: Pixuta olha o óleo. Só assim o meu amigo descobriu que ele era analfabeto… Em verdade e alívio do meu amigo, Pixuta havia trocado o óleo corretamente.
A vida, meus amigos, sempre dá o seu jeito. Espero que a vida não demore a soprar ventos de mudança, vendaval de esperanças para que desponte uma nova era; vestindo a todos os despidos da educação, os excluídos da alfabetização com um dos mais belos trajes do ser humano – a Educação.