A Violência e a Paz

20 de Abril de 2013 3 Por JORGE Baldez

                               O homem, ao longo dos séculos, vem escrevendo a sua própria história, página após página, capítulos e mais capítulos repletos de violência e dor: a Inquisição, as Cruzadas, Nabucodonosor, Xerxes, Átila, Gêngis Khan e outros imperadores cruéis, que se compraziam em torturar os vencidos, seus prisioneiros, cegando-os, a princípio com um estilete de uma ponta; depois, uma lança de duas pontas para cegar os dois olhos ao mesmo tempo e rapidamente satisfazer os seus prazeres exóticos e selvagens.
A humanidade de hoje com toda a tecnologia – as conquistas da ciência: computadores, clonagem, transplantes, a robótica, a nanotecnologia – expressa a era da inteligência da criatura humana, entretanto, despida, ainda da argamassa dos bons sentimentos. O homem é cérebro sem coração. “É um gigante tecnológico, mas um pigmeu moral” – general norte-americano. É a inteligência sem amor. É um pássaro impossibilitado de alçar voo para a plenitude; pois, falta-lhe a asa do sentimento bondade, de ternura, de caridade. Estamos gravitando em torno de nós mesmos, das nossas necessidades, do nosso egoísmo, aprisionados pelo nosso Ego, portanto, distanciados da unidade com Jesus, da unidade com o Criador.
A humanidade do futuro deverá gravitar para a unidade com a vida, com o próximo, com a natureza, uma humanidade sem egoísmo, onde não haverá mais o “eu”, mas “nós”, não haverá mais o “ter”, mas o “ser”, não haverá mais o Ego, mas o Superconsciente. Citemos o Mahatma Gandhi, por exemplo: Certa vez, a sua esposa disse-lhe com um misto de revolta e orgulho – Imagine que as mulheres me convidaram para lavar as latrinas dos párias! – eu recusei, pois eu sou a esposa de Gandhi. Ele olhou-a com um misto de censura e bondade e lhe disse: mas, exatamente por seres a esposa de Gandhi é que deverias ter aceitado ao convite, mas, se você recusa a lavar as latrinas, eu as lavarei – e foi levá-las.
Nesse nível de consciência da evolução da criatura humana, mais valem os exemplos do que as palavras – para lá destina-se a humanidade – vai demorar alguns séculos, é óbvio, mas todos nós vamos alcançá-lo um dia, certamente. Para alcançá-lo são necessários três requisitos fundamentais: Justiça, Paz e Fraternidade, que são os adversários imbatíveis da personalidade do homem da atualidade, que se caracteriza pela ignorância, violência e injustiça. Somente depois que superarmos esses arquétipos do nosso primitivismo é que deveremos gravitar em torno da unidade com Jesus. E para recordarmos nossos arquétipos primários basta mergulharmos na grande saga da humanidade ou fazermos uma autocrítica de nossa conduta nada ética e amoral.
Estamos no limiar de uma nova era – e, segundo o calendário Maia iniciou-se no dia 21/12/2012. Felizmente, não podemos ocultar que estamos no ápice de um momento catastrófico; uma preparação para a transição planetária – tempos de grande emigração dos habitantes do nosso planeta que praticam o mal pelo mal, desprovidos de bons sentimentos, os quais, já não sendo dignos do planeta em plena transformação, serão excluídos, para não constituírem obstáculo ao progresso. “Substituí-los-ão espíritos melhores, que farão reinar em seu seio a justiça, a paz e a fraternidade.” A Gênese, de Allan Kardec. Cap.XVIII – ítens 27 e 28.
A história da humanidade é a pedra fundamental da nossa vida atual. Crescemos através dela; quaisquer que sejam os acontecimentos: bons ou maus – sempre extrairemos um quinhão de verdade, de amadurecimento, de entendimento, de aprendizagem, que se soma ao longo do tempo e resulta na nossa realidade atual, portanto a história não é só o passado, mas o nosso presente burilado pelo cinzel do tempo, das experiências e das consciências reeducadas pelo processo evolutivo das criaturas humanas. Na verdade, estamos vivendo o presente, que é o fruto das nossas experiências do passado; construindo o futuro com as vivências dos dias atuais, porque o passado, presente e futuro fazem parte de uma mesma realidade.
A humanidade passou por um dos momentos de trevas no ano de 410 d.C quando os Visigodos saquearam a cidade de Roma, começando o período medieval: da anarquia, da criminalidade, da ignorância, do ódio, da injustiça. Nessa época, a criatura humana valia menos que um animal de carga, portanto, cedemos lugar à selvageria.
Mais recentemente, o grande periódico americano Washington Post em colaboração com a revista Life pesquisou os momentos mais importantes do último milênio. É fascinante e atormentador sabermos que dos 100(cem) fatos mais notáveis catalogados por uma equipe de artistas, escritores, filósofos, sociólogos, psicólogos – o fato mais marcante e notável do último milênio foi a vida de Gêngis Khan o grande conquistador mongol que nasceu em 1161 e quando tinha 13 anos reuniu sua tribo e revelou o seu espírito guerreiro que iria assinalar a sua trajetória na Terra. “Eu sou o flagelo de Deus, se vocês não tivessem cometido tantos pecados, Deus não lhes teria mandado uma punição como eu.” Palavras de Gêngis Khan na mesquita principal de Bucara na Asia Central. Gêngis Khan era portador de um sentimento caracterizado pela impiedade, jamais igualada. Por volta de 1211 com 50 anos,reuniu todas as tribos mongóis e iniciou a saga do maior império que a humanidade jamais teve. Ele dizia que a sua grande façanha e a glória de seu povo era ver as lágrimas dos seus inimigos; suas esposas e filhas violadas, suas cabeças decepadas e suas aldeias incendiadas. Esse era o maior troféu que um mongol podia desejar. Quando morreu, o mundo conhecido estava praticamente nas mãos dos mongóis – um império duas vezes maior que o de Alexandre, o grande, e quatro vezes maior que o império romano. Era um período de trevas, pois as sombras da violência se espalharam pelo mundo, porque a dinastia Khan instituiu o horror e sofrimento aos povos da sua época. Desse modo, ele representou de maneira cruel e inigualável a era da violência, do ódio, do terror e da injustiça.
Muitas pessoas, no entanto, vivem procurando a paz. Equivocadas, buscam-na em lugares onde jamais a encontrarão. Iludidas pelo misticismo e pelo imediatismo enclausuram-se em mosteiros, spas, recantos arborizados e sob a orientação de gurus, recitam mantras, comem vegetais e meditam; ou viajam para a Índia, Jerusalém, Roma, Uberaba… Ninguém pode dar paz a quem tem o recipiente do coração repleto de mágoas, ressentimentos, ódio e ainda são incapazes de perdoar. Essas pessoas podem ir a qualquer lugar do mundo, mas aonde quer que estejam levarão sempre consigo os seus conflitos, os seus problemas, e a paz que julgam encontrar não é a paz real, é apenas uma ilusão. E, como toda ilusão, o seu efeito é temporário, é passageiro e quando a pessoa desperta se conscientiza que não se tratava de uma paz verdadeira.
Quando Chico Xavier manifestou a Emmanuel o seu desejo de psicografar um romance. Ele disse a Chico: você ainda não está em condições, pois falta-lhe paz interior. E Emmanuel explicou-lhe que o processo mediúnico para esse tipo de psicografia exigiria que o médium em desdobramento espiritual presenciasse as cenas do romance como se estivesse assistindo a um filme; ao mesmo tempo que Chico psicografaria ele veria as cenas desenrolando-se como se ele estivesse no passado naquele momento – na realidade, Chico estaria vendo plasmado os pensamentos de Emmanuel. Nessa época, Chico vivia um momento de conflitos e inquietações com os inúmeros problemas da sua família. Somente a cerca de quatro anos do seu desejo, conquistou a paz necessária para psicografar os mais ricos e belos romances da história do Cristianismo.
Disse-nos Jesus: ” O reino de Deus está dentro de nós.” E, aí está a nossa paz, caso cultivemos no dia a dia o comportamenbto ético e moral dos SEUS ensinamentos; mas o comportamento antiético e amoral faz aflorar a nossa violência. Jesus sabia da importância da paz para a criatura humana  e ofereceu-nos: “EU vos dou a minha paz como somente EU posso dar.” Significa que a paz de Jesus é a do mundo interior; dos valores ético-morais e comportamentais; não resultam das conquistas  materiais.
O Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE) traz uma mensagem redentora para a humanidade porque é um poema de paz; é um tratado de paz e espiritualidade. Os Espíritos superiores nos legaram o esclarecimento, porque trouxeram um manancial de informações sobre as máximas de Jesus – das parábolas – dos ensinamentos simbólicos.
O ESE exalta o amai-vos uns aos outros, o poder da paz e da não violência, fazendo-nos enxergar e compreender melhor os ensinamentos de Jesus. As máximas do ESE são um convite para a construção da paz interior, da paz de espírito. Faz-nos compreender os sofrimentos e as dificuldades dos outros como nossos também – é a compaixão florescendo em nós. Jesus sempre ensinou-nos a não violência, a não oferecer resistência, pois a resistência ao agressor o tornará mais violento.
Um campeão de artes marciais é capaz de quebrar um monte de tijolos empilhados, porque os tijolos opõem-se a ele com a resistência da sua rigidez; entretanto, ele será incapaz de partir um travesseiro de espumas, pois o mesmo se abranda, torna-se fofinho, não lhe oferece resistência. “Se alguém lhe obrigar a andar uma milha, ande duas com ele; se alguém lhe roubar a capa dê-lhe também a túnica.”(Mateus V: 38-42). Portanto, não ofereça resistência – tenha paz. A paz foi, é; e será sempre o ensinamento do meigo rabi da Galileia. Jesus evocava a paz no dia a dia, nos diálogos, no olhar, na SUA voz e exalava um perfume tão especial que somente ELE poderia exalar – o perfume da paz. Ao entrar em um lar – a paz esteja nesse lar – era a SUA saudação; ou a paz esteja convosco.
Jesus era um pacifista e recomendava: amar os inimigos; fazei o bem àquele que vos persegue. ELE foi vítima da violência, mas não reagiu, apenas agiu com a paz que LHE inundava a alma. Hoje nós temos um mundo cheio de ensinamentos de Jesus, mas sem paz, porque a SUA mensagem está distanciada das relações e ações pessoais, sociais e coletivas. Somos um mundo cristão, mas distante do Cristo, pois cultuamos a SUA dor, o SEU sofrimento, a SUA morte, mas negligenciamos, ignoramos o SEU amor e a SUA paz.
Nós sempre temos a preocupação de mudar as pessoas e o mundo, mas não mudamos os nossos conceitos, as nossas atitudes, o nosso comportamento. Desejamos encontrar a paz com mudanças superficiais tais como: fazendo alimentação vegetariana; plástica estética; musculação; viagens para a Europa; nas badalações sociais. Quantas pessoas são amarguradas, porque estão plenas de superficialidades, buscando as algazarras do mundo para esconder os seus gritos de ansiedade, de dor, de tristeza; os gritos internos da alma doentia pelo cultivo das futilidades da vida.
Finalmente, o ESE nos faz entender que nós não temos nem culpa, tampouco pecado, mas responsabilidades pelas ações que praticamos; e que o único antídoto da violência é a paz.