Médium,Mediunidade e Obsessão V

18 de Julho de 2014 2 Por JORGE Baldez

        Após a publicação dos últimos artigos eu recebi algumas perguntas com o mesmo teor: se a ação malévola de Espíritos sobre as pessoas – os fenômenos obsessivos – podem conduzi-las à prática da violência/homicídio. Responder de forma lúcida, compreensível e responsável a um tema tão vasto e complexo, não é tarefa fácil, apesar de estudá-la há quase três décadas.
O assunto violência seguida de homicídio é multidisciplinar, por isso, a sua complexidade. Portanto, ouvir, ler e estudar as mais variadas opiniões nas diversas áreas do conhecimento humano é uma condição sine qua non para um bom entendimento.
Não sei você que está lendo este artigo…, mas eu tenho 63 anos, e na minha infância pude desfrutar gostosamente correndo ao ar livre na rua, na pracinha, com amigos e amiguinhas da mesma idade, compartilhando as tradicionais brincadeiras da nossa saudável e saudosa época. Os adultos sentavam-se nas calçadas para conversar…
Atualmente, vivemos perigosamente, o noticiário assemelha-se a um filme de terror. No Brasil as pessoas de todas as classes sociais estão mergulhadas no “caldo de cultura” da  violência seguida de homicídio. As bactérias crescem no “caldo de cultura”, e são contidas pelos antibióticos; entretanto, no “caldo de cultura social” a violência e o homicídio crescem, e, até o momento atual, não há ainda um pequeno sinal ou esperança de que possam ser controlados.
Quais as causas da violência/homicídio? — Detalhar o mapa da violência e homicídio nos Estados brasileiros não faz parte do tema, entretanto, podemos dizer a você, que o Brasil é o sétimo país mais violento com 20,4 homicídios por 100.000 habitantes, batendo o seu recorde de homicídios em um ano, o que significa ultrapassar 50.000 mortes, sendo que a maioria das mortes acontece por arma de fogo, o que representa 108 mortes por dia. Algumas causas podem ser citadas, simplesmente, como num piscar de olhos. E nesse rol podemos incluir: urbanização acelerada, abuso policial, desemprego, consumo da violência pela televisão, vídeo-games violentos, drogas: tráfico e toxicomania, impunidade, cultura da violência, facilidade ao acesso de armas, a falta de educação: moral e intelectual, principalmente a educação que cultiva os valores da alma.
E por que a violência não é corrigida, a sociedade desequilibra-se; quando um homicídio fica sem punição o colossal edifício social apresenta rachaduras, expondo a sua fragilidade e seu iminente desmoronamento; resultando num metastático processo geral de insegurança e um fatal colapso da sociedade.
Apesar de a maioria dos estudiosos no assunto indicarem que a maior parte dos homicídios advém das drogas; dados estatísticos demonstram que a maior parcela dos homicídios deve-se a motivos banais: brigas de trânsito, conflitos amorosos, desentendimento entre vizinhos, violência doméstica, brigas de rua por um real ou um cigarro, por uma vaga no estacionamento…
Há pouco tempo li uma reportagem sobre os Black Blocs e fiquei muito pensativo com a seguinte declaração: “O caos que o Estado tem colocado na periferia, por meio da violência policial, na saúde pública com as pessoas morrendo nos hospitais, na falta de educação, na falta de dignidade no transporte público, na vida humana, é o caos que a gente(Black Blocs) pretende devolver de troco para o Estado.”
O pensador Ricardo Flores Magón  um dos mais notáveis anarquistas mexicano nos convida a fazer uma reflexão com a seguinte frase: “Não são os rebeldes que criam os problemas do mundo, são os problemas do mundo, que criam os rebeldes. A rebeldia é a vida. A submissão é a morte.”
“Calar diante dos erros quando se pode ajudar, é omissão. Silenciar diante do mal é compactuar com ele” – Espírito São Luis.
Atualmente, estamos vivendo um novo paradigma, pois ao invés da gentileza, da paz e do diálogo fraterno há o predomínio da violência seguida de homicídio. A impulsividade e a gentileza devem caminhar juntas, para a impulsividade não se transformar em violência; tampouco a gentileza em pieguice.
A Doutrina Espírita é essencialmente filosófica e esta Filosofia está consubstanciada no Livro dos Espíritos. Eu vou, a partir de agora, utilizá-lo para elucidarmos as questões que me motivaram a elaborar este artigo. Relembre que a influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos é mais frequente do que podemos imaginar, assim como podem conhecer os nossos mais secretos pensamentos. Portanto, é mais fácil ocultar alguma coisa de uma pessoa viva do que escondê-la dessa mesma pessoa depois de morta. (1)
É pertinente dizer que não estamos à mercê dos Espíritos e podemos nos libertar da influência daqueles que nos impelem ao mal, porque eles só se apegam às pessoas por seus desejos ou aos que, pelos seus pensamentos, os atraem.(2) Deste modo, a pessoa permite a influência malévola do ou dos espíritos; nenhum Espírito pode violentar quem quer que seja, levado-a a um processo obsessivo, sem que a pessoa não o permita.
Portanto, através de desejos vis, pensamentos maus, ações e sentimentos amorais permitimos tal influência, entretanto, somos capazes de reforçar o nosso mecanismo de defesa, afastando quaisquer más influências seguindo a orientação da questão 469 de O Livro dos Espíritos: “Praticando o bem e pondo toda a nossa confiança em Deus, repeliremos a influência dos Espíritos inferiores e destruiremos o império que queiram ter sobre nós. Essa a razão por que Jesus nos ensinou a dizer, na oração dominical: Senhor! Não nos deixeis cair em tentação, mas livra-nos do mal.”
É bom relembrar que o nosso planeta é de provas e expiações, povoado de Espíritos imperfeitos, moralmente falando, portanto, predispostos a influência negativa, entretanto, não podemos generalizar atribuindo tudo aos Espíritos inferiores, porque nem sempre a influência negativa é de origem obsessiva – muitas vezes, somos nós mesmos os agentes – porque as nossas feras estão debilmente enjauladas em nossa intimidade, rugindo ferozmente: orgulho, egoísmo, deseducação, irritabilidade, impaciência, sexualidade desequilibrada; prontas para atacar e dar o bote da violência. Segundo Sigmundo Freud: “Somos selvagens, ainda, com um certo verniz de civilização.”
Devemos reconhecer que os germes da violência e da criminalidade estão diretamente relacionados com o nível moral da criatura humana. O foco central está no próprio ser humano. Os nossos piores inimigos, portanto, estão dentro de nós.
Existem ao nosso redor muitos fatores desencadeantes, mas a violência/homicídio vem de dentro da alma, do espírito, pois, ainda carregamos pesada carga de deficiências, fruto das escolhas que fizemos e ainda fazemos. Utilizamos o livre arbítrio para as escolhas, mas somos prisioneiros das consequências, ou seja, somos responsáveis por nossas ações. Somos herdeiros de nós mesmos. Nós somos a nossa herança ancestral. Se plantarmos rosas no terreno sáfaro da nossa alma, no dia da colheita não sentiremos o seu perfume, mas, certamente os espinhos causando-nos dor e sofrimento.
A temporalidade da vida humana aqui na Terra é efêmera, pois em poucos anos fecha-se a cortina no palco da vida, encerrando-se mais um espetáculo da existência. Por isso, devemos investir no Espírito que se eterniza, vestindo-nos do mais belo traje da alma e nos imunizando com a vacina mais efetiva contra a violência/homicídio, que é a educação dos sentimentos. Somente assim poderemos encontrar uma pequena medida de paz, que todos nós procuramos, mas, infelizmente, ainda poucos acham. A paz é única forma de nos sentirmos realmente humanos – segundo Albert Einstein.
Finalmente, posso responder com tranquilidade à questão que motivou este artigo. Sim, os processos obsessivos podem ser um fator causal para a prática da violência seguida de homicídio, entretanto, você percebeu que isso só acontece devido as nossas próprias deficiências, portanto, somos nós os grandes responsáveis.
Bibliografia:
(1) – O Livro dos Espíritos – questão 457, 457-a
(2)- O Livro dos Espíritos – questão 467