Reflexão Teológica

9 de Agosto de 2015 2 Por JORGE Baldez

                         Acredito que o caro leitor(a) está preocupado ou no mínimo curioso quanto ao desenrolar de um tema tão espinhoso e polêmico. Portanto, será prudente a princípio relembrarmos o que é Teologia. Segundo o dicionário Houaiss significa: 1- ciência ou estudo que se ocupa de Deus, de sua natureza e seus atributos e de suas relações com o homem  e com o universo; 2- conjunto dos princípios de uma religião; doutrina; 3- maneira particular de tratar as questões religiosas.
Bem, agora posso iniciar a nossa conversa sem risco de me perder e, ainda, muito esperançoso de encontrarmo-nos ao longo do caminho…
É necessário, no entanto, deixar bem claro que as nossas observações ou comentários não terão nenhuma conotação de agressão ou crítica a esta ou aquela religião, pois somos de opinião que todos têm o direito de pensar e expressar-se livremente – é a “Consciência de Alteridade”, que significa respeito ao pensamento do outro, segundo Leonardo Boff.
Para ficarmos bem situados quanto às intenções do tema a ser desenvolvido vamos relembrar um importante e breve diálogo entre o teólogo Leonardo Boff e o Dalai Lama.
Santidade, qual é a melhor religião? ( Your holiness, what’s the best religion?) – eu esperava que ele dissesse: É o budismo tibetano ou são as religiões orientais, muito mais antigas que o cristianismo.
O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso me olhou bem nos olhos e disse: “A melhor religião é a que mais aproxima-te de Deus, do infinito”. É aquela que te faz melhor.
O que me faz melhor? Perguntei. “Aquilo que te faz mais compassivo; aquilo que te faz mais sensível; mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável, mais ético. A religião que conseguir isso de ti é a melhor religião.
“Não me interessa amigo, a tua religião ou mesmo se tens ou não religião. O que realmente importa é a tua conduta perante o teu semelhante, tua família, teu trabalho, tua comunidade, perante o mundo.”
Após um diálogo tão lúcido e esclarecedor eu poderia até desistir do nosso encontro…, mas, avancemos…
Então, a questão não é simplesmente se a minha religião é a melhor, tampouco a que tem o templo mais rico ou a que possui o maior número de adeptos; se sou capaz de memorizar muitos versículos; se faço jejum prolongado; se tem imagem ou não; se dou passes ou se consigo me comunicar com espíritos – nada disso me servirá, caso não consiga me transformar em uma pessoa melhor…
Agora, chegamos a um momento de reflexão: qual caminho estou seguindo? A religião a que sou adepto me transformou em uma pessoa de coração bondoso para com todas as pessoas, sem restrições? Ou, me ensinou a ser um fanático, que ataca os adeptos de todas as outras religiões?
Embora não possa ter acesso às suas respostas; ou mesmo dividi-las em grupos estatisticamente significativos; posso inferir a existência de adeptos de coração bondoso, do mesmo modo que, certamente, encontraremos fanáticos dispostos às mais graves atitudes…
O fanatismo é fruto da ignorância, portanto, o fanático religioso é um indivíduo encarcerado nas grades da própria ignorância; alienado a tudo e todos que não estiverem de acordo com os ensinamentos da sua religião. Segundo pesquisas, geralmente, a maioria têm baixo nível de instrução, ou um QI que não alcança o nível mais baixo da normalidade. O de QI mais elevado é considerado: um “drogado religioso”, ou seja, é como se sua religião fosse uma “droga”. Mais: não leem, não questionam, não raciocinam, apenas ouvem e seguem pelo caminho previamente sinalizado por outrem. Compete-nos o exercício da tolerância…
Eu disse tolerância, mas não concordância, pois as religiões ainda pregam nos dias atuais os mesmo enganos dos teólogos do passado, ou seja: Deus sofre com os nossos pecados; castiga os pecadores, apresentando-nos um Deus vingador e justiceiro, portanto pregam a Teologia do Deus terror, quando deveríamos aprender a Teologia do Deus de misericórdia e amor, porque ELE nos ama mais do que nós mesmo nos amamos.
A grande verdade é que Deus não castiga, não sofre com os nossos pecados, quem sofre são as nossas vítimas e nós mesmos quando a nossa consciência acender o sinal vermelho de nossa ação vil…
Relembremos o que significa a palavra “pecado” – “amartia” em grego, e que quer dizer “afastar-se da meta”, desviar-se do caminho de nossa jornada em direção a Deus. Portanto, a nossa meta é encontrar o verdadeiro caminho… através dos ensinamentos de Jesus, que nos sinalizou: “EU SOU o caminho, a verdade e a vida.”
Os teólogos, além de pregar a “teofobia”- medo de Deus, ressaltam a morte do enviado na cruz, cultuando um Cristo crucificado e ensinando que a SUA morte e o seu sangue derramado nos salvam. Estamos mais fixados na tragédia de sua morte do que nos seus ensinamentos. ELE não pediu o nosso sacrifício na cruz como ato de “salvação”. Pediu sim: renuncia a ti mesmo, carrega a tua cruz e segue-me. Compete-nos compreender o que significa o pedido de Jesus e pô-lo em prática, vivenciá-lo, caso contrário tropeçaremos nas próprias pernas…
Jesus observou, ainda, que quem quisesse ser o primeiro, que fosse também o maior servidor de todos. Então: “renuncia a ti mesmo” – significa a nossa boa vontade de servir as pessoas, e não ser servidos por elas. Na visão da Psicologia Transpessoal o pedido de Jesus pode ser contextualizado: renuncia ao teu ego, carrega a tua cruz e segue-me.
O mais importante, portanto, não foi, não é, e jamais será a crucificação e morte de Jesus, mas o conviver conosco neste mundo, trazendo a mensagem do Evangelho – a Boa Nova, simplesmente, exemplificando-nos e apontando-nos o caminho. O que estamos esperando? – ELE nos aguarda, pacientemente, para seguir conosco, independentemente de nossa crença, cor, opção sexual ou status sociocultural.
Referências:
1- Ressurreição de Cristo, nossa Ressurreição na Morte – Leonardo Boff;
2- Reencarnação na Bíblia e na Ciência – José Reis Chaves.