Espírita, por quê?

18 de Agosto de 2018 0 Por JORGE Baldez

                               No ano de 1986, há 32 anos houve uma mudança radical na minha vida: pedi demissão do hospital que trabalhava, mesmo sabendo que ia ganhar o triplo a partir do mês seguinte; casei em 01 de março e viajei para o Rio de Janeiro no dia 11/03/1986. Eu ingressei em dois cursos de pós-graduação: PUC-RJ no Hospital da Polícia Militar e Fundação Carlos Chagas no Hospital da Beneficência Portuguesa.
Após concluir as pós-graduações fui aceito no Hospital do Andaraí, onde permaneci durante o ano de 1988. Lá sedimentei e pratiquei com excelência tudo que tinha aprendido até então, e, também tive a felicidade de começar a definir a minha religiosidade…
Sinceramente, não foi tão fácil, pois estava cercado de informações religiosas: a minha raiz católica me conduziu à leitura do Livro Sagrado — Bíblia; por outro lado um tio muito querido pastor da igreja Batista no Rio de Janeiro, presenteou-me com uma bíblia e me levou para assistir à sua pregação em um templo em Águas Claras; sem falar no Claudio, judeu, médico, inteligente, que adorava conversar comigo sobre o Alcorão, quase todos os dias no serviço de Endoscopia do Hospital do Andaraí.
Enquanto a aprendizagem médica ia muito bem…, a religiosa, nem tanto… muitos questionamentos sem resposta… Primeiro: porque os meus estudos bíblicos esbarraram logo no Velho Testamento, por mais que me esforçasse não compreendia muitos absurdos ali contidos, e, quando fui comparar a Bíblia católica à que o meu tio protestante me deu de presente, aí fiquei mais confuso… Tentei contextualizar, mas não consegui, então pulei para o Novo Testamento, mas sem um tom de entendimento que me permitisse uma definição do caminho a trilhar ou mesmo respondesse às minhas interrogações de maneira racional e convincente.
Então, aconteceu o primeiro clarão, a pequena luz ao final do túnel. Foi em um final de tarde de uma quinta-feira do mês de maio de 1988, após ouvir uma autêntica pregação do amigo Claudio sobre o Alcorão — quando ele afastou-se, a Sra. Irenice auxiliar de enfermagem, discretamente perguntou em voz baixa para que Claudio não a ouvisse — se eu gostava de ler sobre assuntos religiosos — eu respondi, que sim. Prontamente, ela me prometeu trazer, na quinta-feira próxima um livro, que eu iria gostar muito.
Envolvido em muito trabalho, tarefas e leitura de textos científicos da minha especialidade acabei esquecendo a promessa, entretanto, ela não esqueceu… Conforme prometera, trouxe o livro. Nenhuma chance de iniciar a leitura na sexta-feira, mas, no sábado quando voltava da feira, tive uma vontade incontrolável de iniciar a leitura.
O titulo do livro: E a Vida Continua… Pelo Espírito André Luiz e psicografado por Francisco Cândido Xavier que descrevia A Vida no Mundo Espiritual. À medida que fui lendo o meu interesse foi se aguçando e não queria mais parar e quando alcancei o capítulo 9 e li: “Somos, cada um de nós, um rastro de inteligência a perquirir… e a aperfeiçoar por nós próprios.” “Depois da morte, somos o que fizemos de nós, na realidade interna, e colocamo-nos em lugar compatível com as possibilidades de recuperação ou com as oportunidades de serviço que venhamos demonstrar.” “Sim, no mundo dos homens, uma criatura não se modifica, de improviso, por haver atravessado o oceano, de um continente para outro… Acontece o mesmo, nos domínios do espírito.”
Não acredito…! — falei baixinho num solilóquio que era só alegria — encontrei finalmente…! Impossível tanto conteúdo em um livro com um pouco mais de duzentas páginas. Ao mesmo tempo fui envolvido por uma sensação de já ter conhecimento daquela descrição da vida espiritual… Mal pude aguardar pela segunda-feira, pois desejava ardentemente perguntar a alguém onde poderia comprar livros com o mesmo assunto — o mundo espiritual. De posse do endereço – uma avenida paralela à Seara — um local com muitas lojas comerciais, onde se vendia de tudo e obviamente, já tínhamos ido a esse local várias vezes, pois minha querida esposa é uma expert compradora de bugigangas, rendas e filós.
Foi uma longa espera, pois só teríamos tempo no sábado próximo, devido às atividades durante a semana.
Era uma livraria pobre da FEB que na época era sediada no Rio de Janeiro. Um salão bem grande e uma fileira de grandes tabuleiros repletos de livros. Livros mal encapados, frágeis e baratos o que contrasta com a livraria da FEB, hoje sediada em Brasília. Quando me aproximei de um dos tabuleiros me deparei com toda coleção de André Luiz, que começava com Nosso Lar e terminava com E a Vida Continua, totalizando treze livros. Comprei todos, mesmo sob o protesto da minha amada que não estava entendendo nada… Assim, o meu primeiro contato com o Espiritismo foram as obras de  André Luiz. Li todos com grande voracidade.
Retornamos à São Luis no começo de 1989 e logo procurei por um Centro Espírita e fui encaminhado à sede da FEMAR na rua de Santaninha para falar com o Sr. Júlio Luz de Carvalho. Lá encontrei um médico anestesista Geraldo Lacerda, e logo nos tornamos bons amigos.
O caro leitor ainda não compreendeu o que todos esses fatos da minha vida têm a ver com o título proposto: Espírita, por quê? Tenha calma, agora leia Espírita, por quê? II.

FEB — Federação Espírita Brasileira.
FEMAR — Federação Espírita do Maranhão.