A PRECE

22 de Julho de 2022 Não Por JORGE Baldez

Em nosso mundo atual, intelectualizado e tecnológico, a criatura humana tem ao seu dispor múltiplos meios de preservar o corpo físico, sofisticados e inimagináveis em décadas passadas; embora, o mesmo não tenha acontecido, quando nos referimos ao aspecto psicológico.

O homem, mergulhado na atmosfera da Terra com seu escafandro de carne, pode ser comparado a um viajante na selva de pensamentos heterogêneos, aprendendo, através de rudes experiências, a encontrar o seu próprio caminho.

O espírito de Maria João de Deus no capítulo 75 – A Aura da Terra e a Ligação da Humanidade aos Planos Invisíveis — no livro intitulado Cartas de uma Morta, psicografado por Francisco Cândido Xavier, descreveu a sua visão de como a humanidade se une pelo pensamento aos planos invisíveis.

–“Fixando atentamente o quadro, notei que filamentos estranhos, em posição vertical, se entrelaçavam nas vastidões sem se confundirem. Não haviam dois iguais e as suas cores variavam do escuro ao claro mais brilhante.” —  “Esses filamentos” – disse-me o mentor – “são os pensamentos emitidos pelas personalidades encarnadas; são reflexos cheios de vida, através dos quais podemos avaliar os cérebros que os transmitem. Aos poucos conhecerás quais são os da concupiscência, os da maldade, os da pureza, os do amor ao próximo.

Esses raros, que aí vês e que se caracterizam pela sua alvura fulgurante, são os emitidos pela virtude e quando nos colocamos em imediata relação com essas manifestações, que nos chegam dos espíritos da Terra, o contato direto se verifica entre nós e a individualidade que nos interessa.”

Portanto, estando mentalmente expostos a todas as influências psíquicas, é imperioso nos educarmos para governarmos os próprios impulsos, aperfeiçoando-nos moral e intelectualmente, para o aprimorarmos das nossas projeções mentais.

Para compreendermos a ação da prece é imprescindível entendermos a forma de transmissão do pensamento. É necessário, assim, imaginarmos todos nós, tanto no plano físico, quanto na dimensão espiritual, mergulhados no fluido universal – um campo de energia que preenche o espaço–, assim como na terra estamos envolvidos pela atmosfera. Essa energia é impulsionada pela vontade, pois é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com a significativa diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, limitadas a uma distância, enquanto as do fluido universal se ampliam ao infinito.

Desse modo, quando a prece se transmite através do nosso pensamento e vontade, uma corrente fluídica se estabelece de um ser ao outro, seja do plano físico ao espiritual ou vice-versa. A energia da corrente está na razão direta da energia do pensamento e da vontade do emissor. É esse o mecanismo de transmissão através do qual as preces são ouvidas pelos Espíritos; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem as suas inspirações, e as relações que se estabelecem a distância, entre nós no plano físico.

Dessa forma, nos valemos da prece para estabelecermos o elo inspirador que necessitamos e, assim, afinizarmo-nos com as diretrizes maiores na dimensão espiritual. É através desse circuito de energia estabelecido pela prece, que as nossas almas recebem o influxo energético renovador, incorporando, espontaneamente, a capacidade que nos predispõe a regenerar o equilíbrio das nossas células físicas exaustas e viciadas, decorrentes de um “modus vivendi” desvinculado da ética e da moralidade. Esse vínculo também reflete sugestões iluminativas das inteligências espirituais de condições mais nobres, com as quais nos colocamos em contato através da prece.

“As condições da prece foram claramente definidas por Jesus. Quando orardes, diz ELE, não vos coloqueis em evidência, mas orai em secreto. Não fingi orar demasiado, porque não será pelas muitas palavras que sereis atendidos, mas pela sinceridade delas. Antes de orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, porque a prece não poderia ser agradável a Deus, se não partisse de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade. Orai, enfim, com humildade, como o publicano, e não com o orgulho, como o fariseu. Examinai os vossos defeitos, e não as vossas qualidades, e se vos comparardes aos outros, procurai o que existe de mau em vós.”

“Orar constitui a fórmula básica da renovação íntima, pela qual divino entendimento desce do Coração da Vida para a vida do coração.”

É imprescindível sabermos que a prece, não deve, em tempo algum, resumir-se a simplesmente pedir alguma coisa, mas agradecer, acima de tudo, ao plano traçado para o seu próprio aperfeiçoamento e necessidades evolutivas, de modo a aproveitar a oportunidade de trabalho, da cooperação e boa vontade no exercício da fraternidade humana; da abnegação e devotamento na prática da caridade.

“Orando, Moisés recolhe, no Sinai, os mandamentos que alicerçam a justiça de todos os tempos, e, igualmente em prece, seja nas margens do Genesaré ou em pleno Tabor, respirando o silêncio de Getsêmani ou nos braços da cruz, o Cristo revela na oração o reflexo condicionado de natureza divina, suscetível de facultar a sintonia entre a criatura e o Criador.”

Referências:

  • O Evangelho segundo o Espiritismo. 12ª Edição-Março de 1996. Federação Espírita do Estado de São Paulo. Tradução de J. Herculano Pires. Capítulo XXVII – Pedi e Obtereis.
  • Mecanismos da Mediunidade/ditado pelo Espírito André Luiz;[psicografado por] Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. – 1ª. Ed. Especial – Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2003; capítulo 25 – Oração.
  • Cartas de uma Morta/ditado pelo Espírito Maria João de Deus;[psicografado por] Francisco Cândido Xavier. 19ª Edição – Livraria Allan Kardec Editora (Instituição Filantrópica). Agosto de 2020; capítulo 75 – A Aura da Terra e a Ligação da Humanidade aos Planos Invisíveis.