Reflexão Histórica do Xadrez

23 de Abril de 2012 3 Por JORGE Baldez

                           Se fizermos uma breve viagem no tempo, por volta do século XVIII, com intenção de saber mais sobre a história do xadrez, vamos encontrar jogadores geniais como os franceses François-André-Danican Philidor e La Bourdonnais, o alemão Adolf Anderssen, o inglês Staunton  e o maior  de todos eles, o norte-americano Paul Morphy, que derrotou todos os maiores jogadores da Europa. Em Paris, jogou às cegas, sem ver o tabuleiro, com os dois maiores enxadristas da época, enquanto assistia a ópera O Barbeiro de Sevilha e venceu-os. Esses enxadristas fizeram parte de uma época chamada Romântica, que priorizava a genialidade e a intuição e, na qualidade de mestres, eles produziram partidas de grande beleza com gambitos, ciladas e sacrifícios.
O austríaco Wilhelm Steinitz, no entanto, começou a questionar o estilo romântico, que priorizava os sacrifícios de peças para conseguir a vitória. No seu entendimento era preferível criar pontos fracos na posição do adversário e atacá-lo, coordenadamente, com um maior número de peças. Steinitz chegou a essa conclusão após estudar todas as partidas de Paul Morphy e também as suas próprias partidas.
Esta percepção inteligente de Steinitz transformou-o no primeiro campeão mundial de xadrez em 1886, após vencer o match com Zukertort. Nasce, assim, a Escola Clássica ou Moderna, que se fudamenta em bases científicas.
O primeiro jogador a compreender corretamente as ideias revolucionárias do grande Steinitz e a difundir seus ensinamentos foi o Dr. Siegbert Tarrasch, apelidado como “o professor”, por sua vez possibilitou o surgimento de mais adeptos como Rubinstein, Alekhine, Lasker  e Capablanca, no primeiro quarto do século XX.(1)
Eis que em 1921 surge um novo questionamento durante a disputa do campeonato mundial, em Havana, entre Lasker e Capablanca, isso após uma longa série de empates. Como estes dois comungavam opiniões semelhantes, concluíram, talvez precipitadamente, que a Escola Moderna, com a mecanização dos conhecimentos em detrimento da intuição, havia chegado ao limite no que diz respeito a um determinado nível técnico e,  assim sendo, o xadrez não tinha mais espaço para evoluir, para crescer. Apesar da genialidade dos dois, pois Lasker bateu o recorde defendendo o título mundial por 27 anos sem perder, resta dizer que ele doutor em Matemática e Filosofia, além de dramaturgo e poeta; e Capablanca que venceu Lasker e ficou de 1915 a 1924, quase uma década sem perder uma partida, estavam enganados. Com o passar do tempo perceberam o seu engano, pois o xadrez tinha ainda um vastíssimo campo para ser explorado, uma vez que os jogadores da época estavam muito longe de esgotar as possibilidades técnicas e táticas do jogo de xadrez.
Mas como a evolução é a base de todo o conhecimento humano, por volta de 1920, três jogadores: Nimzovitch, letãodinamarquês, o checo Reti e o húngaro Breyer, apoiados por adeptos e divulgadores como Alekhine, Bogoljubov, Tartakower, Grunfeld e outros iniciaram a Escola Hipermoderna, que disseminou uma nova e revolucionária tendência do pensamento enxadrístico. Desta forma, Aaron Nimzovitsch refinou e expandiu os princípios da Escola Moderna de Steinitz, ao colocar em prática vários conceitos ultramodernos.
“Com sua habilidade em imaginar esquemas profundos e originais, Nimzovitsch estava muito à frente do seu tempo e a sua contribuição para a teoria do jogo posicional foi enorme. Sua polêmica com Tarrasch aumentou os limites da nossa compreensão do xadrez. Acredito que a histórica disputa entre esses dois titãs do pensamento enxadrístico foi vencida por Nimzovitsch. Uma vitória da flexibilidade.” (2)
Como questionamento, vale especular até quando a Escola Hipermoderna rsistirá ao avanço do conhecimento humano?
Vamos aguardar…

                             Referências Bibliográficas

(1) Nimzovitsch Meu Sistema – Ed. Solis, 2007
(2) Garry Kasparov em Meus Grandes Predecessores – volume 1, Ed. Solis, 2004.