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action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/sergiofm/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114\u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 Quando aquele jovem m\u00e9dico ouviu pela primeira vez coment\u00e1rios sobre a f\u00e9, o poder da f\u00e9 e a f\u00e9 transporta montanhas ficou confuso e sem entender de que maneira, algo abstrato poderia, transportar o material de toneladas de uma montanha. Era uma impossibilidade…! Somente anos depois, no af\u00e3 de definir sua forma\u00e7\u00e3o religiosa; motivado principalmente, pela busca de esclarecimentos e explica\u00e7\u00f5es, ele foi surpreendido quando do encontro com a Doutrina Esp\u00edrita, atrav\u00e9s dos livros de Andr\u00e9 Luiz psicografados por Chico Xavier – um relato sobre: A vida no mundo espiritual…
\nEncontrei, enfim, o caminho a luz — pensou ele com entusiasmo. E no dia do seu primeiro Evangelho no Lar ficou em \u00eaxtase, pois ao abrir a esmo O Evangelho segundo o Espiritismo, deparou-se com o cap\u00edtulo XIX intitulado: A F\u00e9 transporta montanhas. No transcorrer da leitura deu-se conta de como ele se equivocara com a interpreta\u00e7\u00e3o — as montanhas estavam ali no texto com o sentido moral e n\u00e3o material — ele sorriu da sua ingenuidade…! As montanhas que a f\u00e9 transporta s\u00e3o as dificuldades, as resist\u00eancias, a m\u00e1 vontade, o preconceito, o interesse material, o ego\u00edsmo, a cegueira do fanatismo, as paix\u00f5es e tantas outras montanhas, que dificultam os nossos passos, obstruindo o caminho e dificultando o progresso da Humanidade.
\n“A realidade \u00e9 que a f\u00e9 nos d\u00e1 uma esp\u00e9cie de lucidez e permite que se veja, em pensamento, a meta que se quer alcan\u00e7ar e os meios de chegar l\u00e1…” Ent\u00e3o, um bocejo o avisou que o sono chegara — era hora de dormir…Ele h\u00e1 alguns anos ao recolher-se \u00e0 noite, depois de um longo dia de trabalho adquirira o h\u00e1bito de fazer uma retrospectiva do seu dia e de relembrar fatos passados que lhe viessem \u00e0 mente… Ele lera um dia que Santo Agostinho adquirira esse h\u00e1bito com a finalidade de se tornar um homem melhor, corrigindo seus erros dia a dia.
\n\u00c9 \u00f3bvio que aquele personagem n\u00e3o possu\u00eda nada de santo, m\u00edstico ou exc\u00eantrico; ademais, a sua cultura espiritualista n\u00e3o era suficiente para estruturar grandes argumenta\u00e7\u00f5es. Entretanto, tinha a espontaneidade, simplicidade para aprender e a vontade robusta, que lhe dava a esperan\u00e7a de tornar-se um homem de bem no futuro… \u00c9 certo, ainda muitas d\u00favidas povoavam sua mente que mesmo os expertises no assunto espiritismo n\u00e3o eram capazes de esclarec\u00ea-lo. De igual modo os expertises da m\u00fasica cl\u00e1ssica, quando questionados com a inc\u00f4moda pergunta: Quem \u00e9 maior, Verdi ou Wagner? — Alguns disseram que Verdi era um iluminista capaz de despertar atrav\u00e9s da sua m\u00fasica valores como a fraternidade; enquanto, outros afirmaram que Wagner era o compositor favorito dos nazistas, exigindo do ouvinte uma embriaguez opi\u00e1cea devido a longa dura\u00e7\u00e3o das suas m\u00fasicas. Bem, \u00e9 melhor usar a prud\u00eancia de Mario de Andrade ao responder a pergunta e encerrar o assunto: “N\u00e3o se mede altura entre alt\u00edssimos.”
\nContudo, havia dentro de si a ferrenha determina\u00e7\u00e3o em n\u00e3o se transformar em uma figueira seca, conforme a par\u00e1bola citada por Jesus ao sair da cidade de Bet\u00e2nia. Assim, foi a sua estante e apanhou o Evangelho segundo o Espiritismo, a fim de reler o texto que tanto gostava: “A figueira seca \u00e9 o s\u00edmbolo das pessoas que apenas aparentam o bom, mas na realidade nada produzem de bom; s\u00edmbolo das pessoas que podem ser \u00fateis e n\u00e3o o s\u00e3o; dos oradores que s\u00e3o h\u00e1beis com as palavras que agradam aos ouvidos; mas, vazias, sem subst\u00e2ncia, sem nenhum proveito para os ouvintes. S\u00e3o sistemas e doutrinas sem bases s\u00f3lidas, que ser\u00e3o reduzidas a nada, por nada produzirem de bem para a Humanidade.”
\nLamentou, consigo mesmo, pois conhecia um n\u00famero expressivo de profissionais da medicina que n\u00e3o tinham conhecimento dessa par\u00e1bola, tampouco estavam preocupados em fazer o bem ou mesmo tornarem-se homens de bem. Entristeceu-se at\u00e9 mesmo pelo seu desconhecimento religioso, logo no in\u00edcio do exerc\u00edcio de sua profiss\u00e3o.
\nEle relembrou que viveu uma \u00e9poca de pouca tecnologia, tempo em que o m\u00e9dico para fazer um diagn\u00f3stico necessitava de bom conhecimento cl\u00ednico; fazer uma boa anamnese; um exame f\u00edsico minucioso; experi\u00eancia e uma boa intui\u00e7\u00e3o. Entretanto, a pr\u00e1tica m\u00e9dica ao longo das \u00faltimas d\u00e9cadas sofreu radicais mudan\u00e7as em fun\u00e7\u00e3o do r\u00e1pido e significativo avan\u00e7o tecnol\u00f3gico na \u00e1rea dos diagn\u00f3sticos: a Biologia Molecular, o Petscan, a Resson\u00e2ncia Magn\u00e9tica, os Endosc\u00f3pios, o advento da inform\u00e1tica.
\nOs avan\u00e7os em tecnologia, gerou um afastamento dos doentes, uma vez que foi sendo mudada a hist\u00f3ria natural do relacionamento m\u00e9dico-paciente, porque a anamnese e o exame f\u00edsico criteriosos foram\u00a0 substitu\u00eddos pela fria solicita\u00e7\u00e3o de exames e mais exames… Ele, por experi\u00eancia pr\u00f3pria de um m\u00e9dico atencioso e humanista, sabia que todo doente fragilizado pela doen\u00e7a espera do m\u00e9dico aten\u00e7\u00e3o, apoio e prote\u00e7\u00e3o. O paciente, at\u00e9 aceita limita\u00e7\u00f5es, jamais a indiferen\u00e7a. “Os grandes m\u00e9dicos distinguiram-se ao longo do exerc\u00edcio de suas profiss\u00f5es, porque foram ex\u00edmios observadores das emo\u00e7\u00f5es humanas.”
\nOs m\u00e9dicos, portanto, devem estar conscientizados de que t\u00e3o eficaz quanto o medicamento prescrito sob a fria \u00f3tica dos resultados dos exames solicitados \u00e9 a a\u00e7\u00e3o verdadeiramente terap\u00eautica gerada pelo relacionamento m\u00e9dico-paciente, onde se estabeleceu a empatia — que \u00e9 uma das virtudes mais importantes dos grandes profissionais…
\nUma pr\u00e1tica m\u00e9dica \u00e9 tanto mais eficaz, quanto mais vivenciada for a empatia em todos os momentos da consulta cl\u00ednica; assim e somente assim, o relacionamento m\u00e9dico-paciente ter\u00e1 um alcance significativo e ben\u00e9fico no processo terap\u00eautico.
\nO personagem aqui referido j\u00e1 tinha experimentado, em sua viv\u00eancia cl\u00ednica, a medicina sem tecnologia e, agora, a medicina com tecnologia, buscou espiritualizar as suas atitudes, melhorar seu relacionamento m\u00e9dico-paciente e sabia, mais que nunca que a serenidade, generosidade e harmonia de sentimentos eram valores fundamentais. O grande diferencial de um profissional brilhante era o manejo sublime da arte e da ci\u00eancia: a ci\u00eancia — dizia ele, lan\u00e7a m\u00e3o exclusivamente da raz\u00e3o, enquanto a arte, al\u00e9m de recorrer \u00e0 racionalidade, permitia a empatia, simpatia, carisma e intui\u00e7\u00e3o.
\nDesejava, t\u00e3o somente convidar os colegas de profiss\u00e3o, ou seja, todos os profissionais de sa\u00fade, sem exce\u00e7\u00e3o, principalmente professores nas Universidades e demais respons\u00e1veis pela educa\u00e7\u00e3o e gest\u00e3o dos sistemas de sa\u00fade para a quest\u00e3o da Humaniza\u00e7\u00e3o da Medicina. Obviamente, n\u00e3o estava insinuando quanto a m\u00e9dicos despreparados e desumanos!… O que ele desejava n\u00e3o era expor a ferida, mas a a\u00e7\u00e3o curativa — s\u00e3o os porqu\u00eas da fragilidade da rela\u00e7\u00e3o-m\u00e9dico-paciente. Ele detestava quando alguns mercen\u00e1rios maculavam a imagem de m\u00e9dicos dedicados, honestos e competentes.
\nEntristecia-se quando presenciava a car\u00eancia dos doentes que outrora eram avaliados como um todo e, ao longo do tempo, na era tecnol\u00f3gica foram diminu\u00eddos e avaliados como rins, est\u00f4mago, cora\u00e7\u00e3o, joelho, m\u00e3o… A verdade \u00e9 que a medicina adotou uma postura mecanicista com tend\u00eancia materialista!… Muitos profissionais perderam at\u00e9 o respeito pelos pacientes, ao ignorarem o nome do doente que, infelizmente, passou a ter v\u00e1rias denomina\u00e7\u00f5es: o safenado do leito 38, o cirr\u00f3tico da UTI, o leito 52, o tumor hep\u00e1tico, o p\u00e9 podre!…
\nLamentavelmente, ele reclamava em seu solil\u00f3quio: A arte da medicina est\u00e1 em apuros e seduzida pela tecnologia mecanicista,\u00a0 fria o que fez com que houvesse a perda da arte do relacionamento medico-paciente, distanciando-se cada vez mais dos doentes. Assim, no final de mais um dia, lembrou-se de uma de suas frases favoritas: “Um m\u00e9dico sem humanismo n\u00e3o ser\u00e1 propriamente m\u00e9dico. Na melhor das hip\u00f3teses exercer\u00e1 a sua profiss\u00e3o como um mec\u00e2nico de pessoas.”
\nAo acordar para um novo dia de trabalho, que j\u00e1 imaginava longo e exaustivo, voltaria a encerrar ao final do dia, no seu modesto consult\u00f3rio… No consult\u00f3rio, lavou o rosto, ajeitou a cabeleira j\u00e1 com algumas mechas encanecidas, fez um breve exerc\u00edcio respirat\u00f3rio. Sentou-se arrumou a sua mesa, fechou os olhos fez sua habitual ora\u00e7\u00e3o em seguida sinalizou, \u00e0 sua secretaria que encaminhou o primeiro paciente. A tarde se fez noite, despediu-se do sol e a lua assumiu pontualmente o seu turno, presenteando o planeta com a sua beleza. J\u00e1 estava prestes a atender ao \u00faltimo paciente, quando sua secretaria foi avis\u00e1-lo que o pr\u00f3ximo e \u00faltimo paciente era uma crian\u00e7a especial de 10 anos, acompanhada por sua m\u00e3e.
\nEle s\u00f3 fazia cl\u00ednica de adultos, mas a referida m\u00e3e insistiu tanto e como a secretaria tinha orienta\u00e7\u00e3o para n\u00e3o deixar ningu\u00e9m voltar do consult\u00f3rio sem atendimento…, logo em seguida a crian\u00e7a e sua m\u00e3e ali estavam \u00e0 sua frente. A m\u00e3e era uma senhora franzina envelhecida pelo sofrimento, olhar de tristeza e facies de ansiedade… Quanto \u00e0 crian\u00e7a\u00a0 ao primeiro momento parecia aos olhos do cl\u00ednico um pequeno “monstrinho”. Respirou profundamente e recitou mentalmente uma ora\u00e7\u00e3o para afastar-lhe aquela impress\u00e3o negativa — era uma crian\u00e7a desnutrida, magra, cabelos descompostos com o dedo polegar direito na boca, facies sugestiva de s\u00edndrome de Down, orelhinhas de abano e um Ectr\u00f3pio cong\u00eanito no olho direito (ectr\u00f3pio \u00e9 uma condi\u00e7\u00e3o em que a p\u00e1lpebra vira para o exterior, deixando a superf\u00edcie interna exposta).
\nA crian\u00e7a sentou-se e enrolou-se em cima da cadeira assumindo uma postura fetal, mas intercalados por uma inquieta\u00e7\u00e3o e grunhidos com abertura de boca como se quisesse morder algo. N\u00e3o era f\u00e1cil concentrar-se com aquele quadro \u00e0 sua frente… Dado a complexidade da paciente, que al\u00e9m de tudo n\u00e3o proferia uma palavra; sabia que seria uma demorada consulta. Procurou concentrar na m\u00e3e e iniciou uma longa anamnese que, certamente come\u00e7ou desde antes da gravidez e condi\u00e7\u00f5es da gravidez e parto… Constatou, ent\u00e3o, que a menina tinha antecedentes de paralisia cerebral e aspectos sugestivos de Down o que dava car\u00e1ter bem complexo \u00e0 doen\u00e7a e \u00e0 doente.
\nNem a pr\u00f3pria m\u00e3e sabia descrever o que aquele pequeno ser estava sentindo, apenas referia grunhidos mais fortes, contor\u00e7\u00f5es que sugeriam a \u00e1rea abdominal como fonte de “dor”. Finalmente, chegou o momento de examin\u00e1-la, o que n\u00e3o seria uma tarefa f\u00e1cil. Gentilmente, pediu a m\u00e3e que a colocasse na cama para o exame f\u00edsico. A m\u00e3e, ao tentar levant\u00e1-la, recebeu um agressivo empurr\u00e3o e o gesto se repetiu por v\u00e1rias vezes, provocando uma rea\u00e7\u00e3o negativa na m\u00e3e, que usou uma atitude mais brusca para remover a crian\u00e7a da cadeira, cada vez mais contorcida sobre si mesma em uma postura de defesa. Nesse momento o cl\u00ednico impediu a m\u00e3e de nova tentativa…
\nLevantou-se, aproximou-se com delicadeza e explicou \u00e0 pequena com palavras simples e gentis o que pretendia, esperan\u00e7oso da sua colabora\u00e7\u00e3o, no entanto, recebeu tamb\u00e9m um empurr\u00e3o. A m\u00e3e tentou intervir rispidamente, mas ele pediu calma e sugeriu que ela orasse mentalmente. Bem atr\u00e1s da sua cadeira o m\u00e9dico tinha um porta-retratos com a foto de Dr. Bezerra de Menezes — um presente do Sr. Calado, paciente e amigo.
\nEle olhou fixamente para a fotografia, repousou delicadamente a sua m\u00e3o direita sobre a testa suarenta da crian\u00e7a; fechou os olhos e mentalmente proferiu uma ora\u00e7\u00e3o, pedindo humildemente a ajuda de Dr. Bezerra. Ele n\u00e3o soube precisar quanto tempo ficou em estado de prece… Em seguida, pediu para a m\u00e3e levar a crian\u00e7a para a cama de exames. Ela carregou a pequena sem resist\u00eancia e acomodou-a um tanto sonolenta na cama. Ele aproximou-se e a examinou delicadamente sem problemas…
\nEnquanto explicava \u00e0 m\u00e3e da crian\u00e7a a conclus\u00e3o do exame f\u00edsico e a prescri\u00e7\u00e3o, esta levantou-se para admira\u00e7\u00e3o da m\u00e3e e caminhou em dire\u00e7\u00e3o ao cl\u00ednico, enla\u00e7ou-o com seus bracinhos franzinos e deu-lhe um significativo beijo no rosto. Ele retribuiu carinhosamente abra\u00e7ando-a, pois ficou impossibilitado de beij\u00e1-la, pois o rostinho da pequena pressionando o seu rosto e os seus bracinhos em volta do seu pesco\u00e7o n\u00e3o permitiram que ele mexesse a cabe\u00e7a. Foi um momento t\u00e3o envolvente e de paz, tanto para ele e creio, principalmente, para aquele esp\u00edrito encarcerado naquele corpinho fr\u00e1gil, deficiente, agora sem grunhidos e sem abrimentos de boca… Foi um beijo, al\u00e9m do corpo f\u00edsico: um b\u00e1lsamo que banhou a alma dele; e, um momento de mais pura gratid\u00e3o, que trouxe paz \u00e0 agita\u00e7\u00e3o daquele pequeno ser…
\nSerenos, encaminharam-se: o m\u00e9dico, a paciente e a m\u00e3e at\u00e9 a porta do consult\u00f3rio… Ele abra\u00e7ou aquela m\u00e3ezinha fr\u00e1gil, mas forte o suficiente para t\u00e3o \u00e1rdua miss\u00e3o e disse-lhe: Tenha f\u00e9…! Despediram-se na mais plena paz e felizes. Ele fechou a porta, sentindo aquele beijo vibrando nos escanlnhos da sua alma – sentou-se e chorou copiosamente… Nunca um beijo lhe transmitira tanta paz!<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"